BELEZA IMUNE A CRISES

VAIDADE BARATA
Sempre na moda, bijuterias garantem a existência de 3.500 empresas no país.

Na volta ao Brasil, depois de temporada em Portugal, as irmãs Isabela e Angélica de Pádua Oliveira bateram em várias portas em busca de emprego. Não conseguiram nada. Um dia, resolveram não sair de casa e fazer bijuterias. Foi o início, há seis anos, da marca e loja própria Three Sisters, com sede no badalado bairro de Vila Madalena, em São Paulo. As vendas das peças aumentaram e chegaram encomendas até de grifes, como a Ópera Rock, de São Paulo. Afinal, o ramo escolhido pelas jovens parece indiferente às crises econômicas. Mais do que modismo, brincos, colares e pulseiras têm sido artigos consumidos em todos os tempos e culturas.

'O mercado de bijuterias sempre existiu e vai existir, com ou sem crise, pela simples razão de que as consumidoras mantêm forte ligação emocional com as peças', analisa Vera Masi, diretora da Masi&Associados, que organiza uma das maiores feiras brasileiras do segmento, a Bijóias. 'Além disso, são produtos baratos e atraentes, mesmo com o aumento de custos no país.' O negócio não exige altos investimentos, nem máquinas, nem tecnologia sofisticada. Depende de criatividade e design. Movimenta milhões de dólares no Brasil. No caso das bijuterias montadas, aquelas feitas com materiais alternativos (tecidos, palha, pedras e vidros), as vendas anuais são de US$ 45 milhões. Já em relação às peças folheadas a prata ou ouro, também incluídas nesta categoria, os negócios somam US$ 55 milhões.

PÓLOS PRODUTIVOS - Hoje, de acordo com dados do Instituto Brasileiro de Gemas e Metais (IBGM), atuam no setor de bijuterias montadas cerca de 3 mil empresas, entre micro e pequenas, formais e informais. Elas estão em capitais e cidades conhecidas pelo artesanato. Já no caso das bijuterias folheadas, há três pólos de produção. A maioria das 500 empresas está em Limeira (SP), Guaporé (RS) e Cariri (CE). Neste segmento, 85% são pequenas e micros.

As vendas, nos últimos quatro anos, aumentaram para boa parte das empresas, ainda segundo o instituto. Não tanto quanto gostariam empresários como Rosa Guimarães, fabricante paulista de bijuterias, que qualifica o momento atual como de 'vendas retraídas', mas superior ao de jóias, por exemplo. Do total das empresas do segmento, 37% aumentaram as vendas e 19% mantiveram o faturamento estável. Já no mercado de jóias de ouro, apenas 20% cresceram e 16% mantiveram as vendas.

O sucesso no ramo está ligado à capacidade do empresário em acompanhar a moda e explorar vários canais de vendas. 'Quem sai na frente nessa hora conquista os melhores negócios', reforça Vera. Mas, depois da produção, é preciso levar as peças até as consumidoras. 'Os empreendedores, principalmente os de primeira viagem, esquecem de amarrar a área de vendas com a da produção', observa Júlio César da Silva, consultor do mercado de jóias e bijuterias (veja o quadro 'Brilho cobiçado', abaixo).

A Three Sisters, por exemplo, mantém, além da loja de Vila Madalena, serviço de pronta entrega e desenvolve acessórios para grifes de roupas. 'A estratégia é a diversificação dos canais', ensina Isabela. 'Nosso produto é de qualidade, mas deixamos a desejar no marketing e nas vendas.' Outra tendência no setor é a terceirização da produção. Em alguns casos, pode alcançar 80% do processo de fabricação, como na marca Rosa Guimarães. Com apenas dois funcionários, ela toca o negócio. 'É uma forma de diminuir custos. Apenas crio e faço o molde dos produtos', observa Rosa.

Para abrir uma oficina de bijuterias montadas, o consultor Silva calcula um investimento de cerca de R$ 10 mil. O necessário para comprar equipamentos e material. 'Dessa forma, em cinco anos, o empreendedor poderá alcançar faturamento mensal de R$ 1.200', avalia. O desembolso, no caso de fábrica de folheados, é maior.

RETRATO FIEL - O empresário José Carlos Botaro investiu R$ 50 mil em dezembro de 2000 para montar sua fábrica no município de Guapiaçu (SP), a Elmo Indústria de Jóias. 'Como venho do setor supermercadista, contratei um especialista para organizar a produção e treinar os funcionários', conta Botaro. A empresa deu a largada com a produção de linha de anéis, brincos e pingentes e deve fechar seu primeiro ano com faturamento de R$ 150 mil.

Limeira, conhecida como capital dos folheados, fornece dados sobre o crescimento do setor. Desde 1995, o número de empresas da área dobrou no município. Das 420 ali instaladas, 5% são de grande porte, 40% têm em média 50 funcionários e as demais são pequenas empresas familiares, com até 10 empregados. Do total de peças vendidas, 97% custam menos de R$ 200.

A exportação vem crescendo a cada dia e 14% da produção segue para vários países. 'Os embarques para a América Latina são constantes, mas o desafio é expandir as vendas para os Estados Unidos e a Europa', ressalta Antônio Carlos Longo, diretor do Sindijóias, o sindicato do setor. O mercado mundial movimenta US$ 1 bilhão, estima o IBGM. Alternativa para quem quer vender lá fora é a formação de consórcios, como o Libra Export, que reúne seis pequenas empresas e exportou US$ 300 mil em 2000. 'Hoje, exportamos 20% da produção, mas a tendência é de aumentar o percentual', prevê Jorge Paredes, gerente do consórcio.

Com mercado favorável, é hora de ousadias como a da R. Sobral, do Rio. Fabricante de artigos de resina, identificados com a moda praia, a empresa acaba de inaugurar loja própria em Paris. 'Espero aumentar as vendas em até 15% com a unidade francesa', diz Carlos Sobral, o fundador da marca.

Fonte: revistapegn.globo.com
Por Eliete Albuquerque

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